
Olhar para fora de si, como um estranho e perspicaz crítico, sem medo de encontrar seus maiores defeitos e falhas; com sorte, identificar algumas boas qualidades, graças ao bom senso e autoconsciência aguçados.
Provavelmente, apenas com tal maturidade, seja possível encontrar todos os dias felicidades e ainda ter tempo para sonhos. É justamente essa uma das proezas de Anne Frank, a jovem morta, aos 15 anos, pelos nazistas depois de passar pouco mais de três anos escondida em um sótão.
Todo o seu fôlego de vida estão registrados nas páginas de seu diário, tão incansável quanta a adolescente comunicativa que odiava preguiça e mentiras.
Ela tinha o sonho de se tornar jornalista e escritora, além disso tinha o dom para encontrar os passatempos mais produtivos como ninguém.
Durante o tempo em que esteve presa, nunca deixou de sonhar com a liberdade e pouquíssimas vezes foi contaminada pelos eventuais desânimos ou faltas de esperanças dos outros oito integrantes do espaço em que dividiu, conhecido como Anexo Secreto.

Planta do Anexo Secreto descrito por Anne no livro (Reprodução: Super Interessante)
Seus dias de cárcere eram ocupados com taquigrafia em francês, inglês, alemão e holandês, geometria, história, geografia, história da arte, mitologia, biologia, história bíblica, literatura, biografias, entre outros. Sem contar, obviamente, com suas escritas no diário e outras histórias que gostava de criar.
Com apenas esses elementos é possível ter uma ideia dos motivos que levaram os registros dos últimos anos de Anne se tornarem tão famosos, um clássico no mundo inteiro, infelizmente de algumas das lembranças dos piores horrores cometidos pela humanidade em uma guerra.
O depoimento é rico, eloquente e avassalador, apesar de toda tristeza envolvida e a esperada do fim trágico, a narrativa envolve o leitor de uma forma muita amigável. Incrível como uma pessoa tão jovem conseguia compreender e relatar tão bem a vida e as pessoas. Nas páginas, consegui me reencontrar no passado inúmeras vezes em várias situações. Uma delas é referente ao ódio pela mãe, uma característica comum na maioria das adolescentes.
Ou seja, como ela mesma dizia em seus relatos em nada se diferenciavam dos demais, exceto pelo fato da privação do direito a ter uma vida em que pudessem olhar o sol pela janela sem medo de represálias. Diante de tantas barbaridades, ela poderia se ver “no topo do mundo, ou nas profundezas do desespero”, se consolando com o fato do papel ser mais paciente do que as pessoas.
Lançado em 1947, pela primeira vez, com a ajuda de seu pai, o único sobrevivente do Holocausto, o livro está na sua versão definitiva depois da entrada das páginas consideradas proibidas que tratam de sexualidade.
Título: The Diary of Anne Frank
Autor: Anne Frank
Páginas: 352 páginas
Editora: Record
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