*Essa é a minha primeira contribuição - e certamente não será a única, haha - para o projeto (FILMOTECA) idealizado por @flaviusbusck, onde a ideia central é propagação das resenhas / críticas de filmes. Então, se você gosta de cinema e quer falar sobre o que anda assistindo sem ter que se preocupar obrigatoriamente com termos técnicos (porque aqui, o que vale é mesmo a sua impressão / opinião).

Sinope: Kevin possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente em seu organismo apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.
"Fragmentado" é o trabalho mais recente do diretor M. Night Shyamalan, que ganhou fama mundial e abriu diversas porta em grandes estúdios de Hollywood após o seu primeiro - e até então mais aclamado - filme em grande circuito, "O Sexto Sentido". O tema principal de "Fragmentado" são as diversas facetas que se escondem na psique dos seres humanos e até onde elas podem chegar através das consequências dos acontecimentos por elas desencadeados.
Na mente de um ser humano aparentemente comum (interpretado pelo ator James McAvoy, que aliás... aqui - indiscutivelmente - faz um de seus trabalhos mais memoráveis), vivem 23 personalidades distintas entre sim, mas que dividem o mesmo espaço físico (pois todas elas se manifestam na mesma pessoa). No entanto, nenhuma das personalidades tem uma autonomia própria e isso se deve a uma "prestação de contas" a "algo" que consegue ser ainda maior e mais poderoso do que as 23 personalidades juntas: a Besta.

Após sequestrar 3 jovens adolescentes em um estacionamento, ele as mantém em cativeiro e a medida em que o tempo vai passando e as várias situações vão acontecendo as facetas das personalidades se apresentam de maneiras únicas, porém marcantes em suas formas de se expressar.
Cada personalidade é muito distinta e tem um objetivo demarcado a ser alcançado para realizar um "bem maior", assemelhando-se a peças de um quebra-cabeças, onde apenas a através da união todas é possível visualizar o resultado final.
O filme tem um ritmo relativamente lento - e isso certamente irá incomodar várias pessoas -, porém tem um poder hipnótico (principalmente para os telespectadores que gostam de suspenses que tem como plano de fundos aspectos psicológicos) que a todo momento te pergunta: "Será que você a si próprio?".

Cria-se então um jogo mental do filme para com aqueles que o estão assistindo, estabelecendo praticamente uma ligação direta que consegue ser mais importante até do que o trabalho feito pelo bom elenco de coadjuvantes (que aliás, é formado por um bom elenco - destaque para a jovem Anya Taylor-Joy). Tem-se a impressão de que as personalidades falam diretamente com você, e não com os personagens que se encontram em cárcere privado.
Apesar do roteiro ter alguns desequilíbrios em sua balança (por exemplo: as 23 personalidades não são trabalhadas em suas totalidade e várias delas sequer são citadas ao longo do filme) isso não chega a exatamente comprometer a qualidade do resultado final.
Porém, é necessário ter a mente aberta e a curiosidade aguçada para poder se deixar levar pela história que está sendo contada. Existem muitos fundamentos da Psicologia / Psiquiatria durante todo o filme - que se utiliza de vários flashbacks para estabelecer várias pontes -, mas também existem alguns elementos "fora da realidade" para o qual muitas pessoas irão torcer o nariz.
M. Night Shyamalan ainda não voltou totalmente para os trilhos (do qual o seu trem descarrilhou após "O Sexto-Sentido") mas com "Fragmentado" ele conseguiu ganhar mais fôlego e mais credibilidade para poder continuar a escrever / dirigir suas histórias.
Através de uma direção pontual - embora não tão bem distribuída -, ele consegue ambientar uma trama com uma atmosfera obscura em cenários relativamente claustrofóbicos, e com isso, consegue mostrar para o mundo (e acredito que principalmente para os fãs) que ele não é um diretor de apenas um único sucesso.
@caroline.muller - "Rosemary's Baby" | "O Bebê de Rosemary" (1968)