Sangre de Muerdago é uma banda única que nos saúda desde os bosques da Galícia, região de forte influência celta e que fica no noroeste da Espanha, sendo integrada culturalmente com a parte mais ao norte de Portugal, com a qual formam a chamada Gallaecia. Entender o local e a cultura que servem de lar à banda é vital para admirar o som que ela produz, pois as músicas são cantadas em idioma galego, que é muito próximo do português e tem origem na mesma língua que o português, o chamado galego-português.
O estilo do grupo se encaixa no gênero chamado Neofolk, que traz numa linguagem mais moderna os elementos antigos associados às músicas folclóricas, dispondo amplamente de um imaginário rural e natural para apresentar suas canções. Falando em imaginário, o que encontramos na formação estética da banda é de grande beleza, sempre tratando do mundo dos bosques de uma maneira que nos lembra da descrição colorida e aconchegante de um antigo livro infantil. Vejam o capricho do trabalho deste split com a banda Novemthree:
A apresentação da banda não termina nos elementos gráficos de seus trabalhos, mas invade também os palcos. Os membros tratam de criar um clima adequado à atmosfera da música usando de velas e de decoração, como poderão ver no segundo vídeo que consta no texto. Os instrumentos permanecem de acordo com essa atmosfera, contando com violão acústico, violino, acordeão, viola, flauta e uma percussão mais "tribal".
Não há muitas informações sobre a história da banda, então o mais importante aqui é se atentar à sonoridade e ao clima que impera em suas composições. Mas não há maneira melhor de fazer isso que ouvindo uma das músicas:
Xordas
Xordas fican as miñas orellas, cegos fican os meus ollos, eu que baixei, eu que baixei, coas meigas os bosques e alí escoitei. Xordas fican as miñas orellas, cegos fican os meus ollos, eu que subin o alto dos cumios, e alí observei, ali observei. Óso e madeira, pedra e trisquel, coñecín os que moran no alto das árbores, os que corren espidos na neve do inverno, os que vagan nas sombras cantando unha canción. Óso e madeira, pedra e trisquel, coñecin os que rin en fronte o perigo, aqueles que poden agocharse baixo as pedras, tamén os que teñen lume nos ollos. Mais nada que facer, non comprenderei, e aqui xacerei, durmirei.
Como podem ver, a letra está em galego. Para quem fala português, é possível entender a maior parte das coisas. Xordas, por exemplo, é surdas, meigas quer dizer bruxas, já trisquel é um símbolo celta antigo que conta com 3 pontas em espiral.
E, como mencionei, aqui vai um vídeo apresentando o desempenho ao vivo da banda:
Vellos Camiños de Vellas Arbores
longos paseos invernais, noites longas de choiva incansable
sobre follas percorremos vellos camiños de vellas arbores
que ven pasar os seculos mais escuros xamais vividos
dias de dicir adeus, adeus bosques meus
compañeiros leais das nosas vidas e as nosas mortes
bidueiros, carballos e viscos, freixos, teixos e sabugueiros
sempre xerosos, sempre incansables, cheos de paz e sabedoria
destruindo os nosos medos, dando a benvida o descoñecido
Para quem aprecia o clima sombrio e úmido das florestas de clima frio ou a riqueza cultural ibérica, Sangre de Muerdago serve muito bem. As músicas nos fazem viajar a bosques frios cobertos de musgo, visitando locais esquecidos pelo tempo onde as antigas lendas vivem a espreitar por trás das árvores e menires.
Referências
Imagem 1
Imagem 2
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