
NOITE TERCEIRA
Se tu um dia me alquimizares
poderei liquidar-te a dívida que tenho
com o universo
No fogo em que me transformares
será a água em que me venho
dentro do teu verso
Que seja uma selva inteira a arder
e o grito o mais puro fonema
de tudo o que há por dizer
na pedra filosofal do poemaSe tu um dia me alquimizares
dentro do teu secreto forno
eu serei apenas vento
E o ar que respirares
é tudo em que me torno
num vendaval que te invento
Que sejam os uivos da terra
concebendo-te no ventre a gema
e o dilúvio que encerra
que a minha boca o beba num só poema.
(Luís Filipe Sarmento, A Intimidade do Sono, 1999)
também publicado no blog do autor
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