Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : II - Fascismo e Existentialismo

A Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo
Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo :

II - Fascismo e Existentialismo

"Fascismo é intolerância, medo , ódio e rejeição" - charlie777pt

1. Introdução


Na introdução deste post, vou continuar mostrar a estrutura histórica do nascimento da filosofia do existencialismo e na segunda parte eu serei novamente perdido em considerações sobre o ambiente político de nossa era e a ressurreição do existencialismo e filosofias de libertação como o anarquismo e a descentralização no blockchain, como o primeiros conceitos práticos de uma ferramenta de filosofia sócio-tecnológica para criar um mundo baseado na liberdade individual, bem como o primeiro sistema de comunicação possível que faz da anarquia uma utopia realizável.

O Existencialismo pertence ao grupo das chamadas Filosofias Continentais, nome dado pela filosofia analítica, para se livrar de teorias emergentes indesejáveis como a Fenomenologia, o Niilismo, o Absurdismo e o Pós-Modernismo, que contradiziam os pontos de vista racionais sobre a realidade e as pessoas.

A filosofia desde o seu início tem-se focado na praga da condição humana, que não há nenhum significado intrínseco em nós mesmos, na vida e no universo, mas os filósofos tentam formular algum tipo de respostas em relação a essa crença e a esse mundo sem sentido.

  • Os Existencialistas acreditam na autoconsciência para exercer o livre-arbítrio com a responsabilidade da teia das nossas ações, e devemos tentar construir o nosso próprio significado para a vida.
  • A Fenomenologia enfatiza os aspectos da autoconsciência e responsabilidade pelas nossas ações, e pela compreensão do nosso próprio Ser.
  • Os Niilistas vão mais fundo negando qualquer significado para a vida e que é impossível encontrar um modelo para torná-lo significativo.
  • Os Absurdistas admitem a busca do sentido na vida, opondo-se à nossa atual falta de significado, e que devemos aceitar essa restrição e, ao mesmo tempo, nos rebelar contra ela, na linha de pensamento de Camus.
  • O Pós-Modernismo surge na segunda metade do século XX, depois da Era Moderna, como um movimento em torno da crítica literária, filosofia, artes, cinema, arquitetura e sobre os temas da cultura, identidade, história, narrativa, palavra escrita e linguagem. .

Estes movimentos tinham em comum a procura da auto-identidade e da auto-definição e encontrar o significado e sentido da vida.

"Começo a conhecer-me. Não existo" - Fernando Pessoa in Poesias de Álvaro Campos

2- Será o Existencialismo uma arma contra o fascimo?


Albert Camus no seu livro A Peste, que é uma metáfora para esta doença como a ocupação nazista da França, deixa um aviso vivo sobre o fascismo, que como um vulcão adormecido está sempre à espera de explodir e queimar a multidão cega que o aclama em devoção num servilismo voluntário.

“Fascismo é capitalismo mais assassinato.” - Upton Sinclair

Esta praga nunca está morta e aguarda os momentos históricos certos para plantar bactérias de alienação, isolamento, ostracismo e estigmatização, que são os argumentos fascistas que levam à ruptura dos laços sociais e da solidariedade entre as pessoas.

As gerações mais jovens não estão conscientes dos perigos do fascismo, que sempre esteve em hibernação, esperando que as condições sociais de incerteza social e inquietação surjam, para consolidarem e preencherem o vazio resultante da crise de valores, normalmente usando um assalto violento e antidemocrático ao poder, liderado por políticos autocráticos e megalomaníacos fanáticos por poder.

Vou continuar este post com algumas partes de uma resposta minha a um comentário excelente, como sempre do nosso amigo @matheusggr, que me suscitou algum material para uma reflexão sobre o estado atual da demagogia política do nosso mundo "civilizado", e que gostaria de partilhar aqui, pois parece-me importante para uma introspeção de cariz existencialista sobre a nossa visão da Realidade atual .

"O fascismo não é definido pelo número de vítimas, mas pelo modo como as mata". - Jean-Paul Sartre

Nunca senti tão eminente a aproximação duma nova Idade das Trevas, com semelhança á que se adensou antes do nascimento do III Reich, a mesma sensação da emergência dos fascismos na sua forma populista política, que configuram a ambiência dos extremismos políticos, que antecedem os colapsos económicos e/ou dos valores sociais, e que em cada século da nossa história descamba em guerras mundiais.
Em 1932, o fascismo começou a consolidar-se na Europa e mais tarde originou a privação das liberdades individuais na Europa invadida pelos Nazis e na França ocupada, são como uma causa determinante para o nascimento no pós-guerra das forças que forjaram o surgimento do existencialismo, e não é estranho o fato que muitos dos existencialistas eram membros da Resistência durante o último conflito mundial.

"O Fascismo foi uma contra-revolução contra uma revolução que nunca aconteceu". - Ignazio Silone

Como Sarte diria "Os dados estão lançados" e o horizonte político do futuro está a ser marcado pelo resurgimento do discurso fascista, do racismo e xenofobia, com a sua narrativa do ódio e do medo do outro que é diferente, e que escapa á uniformização que é imposta pelo poder, para a sua auto-justificação e para a consolidação dos valores das classes priveligiadas dominantes.
A civilização ocidental com as suas bases burguesas judaico-cristãs, está a tentar voltar ás sua mitica refulgência, regredindo a valores caquéticos, usando o argumento da ostracização e estigmatização de tudo o que se diferencia, com os nacionalismos exarcebados, e a glória dum passado impossível de restaurar.

Vivemos uma sociedade sob pressão com uma crescente ansiedade sobre a incerteza do futuro, a expectativa de vida das pessoas nos EUA que está a decair, as mulheres que entram no mercado de trabalho estão a perder a diferença de mais 10 anos que tinham de vida em relação á de vida homem, e a única resposta que a sociedade ensina é sempre o consumismo, a ingestão de drogas / álcool / alimentos e outras vícios para lidar com este mundo trémulo e incerto.
O recurso á violência pelo sistema, como último argumento, poderá levar á sublevação como única resposta, mas que pode acabar exterminada e com um reforço total do poder.

Temos de criar condições que façam retroceder este perigo eminente, e observar os sinais e manifestações já visiveis dos governos autístas, que não tem soluções lógicas e racionais para o sistema ilógico e auto-consumatório que criaram, e que tentam o jogo baixo de manipular as emoções coletivas, criando falsos inimigos como bodes expiatórios, que são sacrificados em nome do ódio e do sangue como a consolidação da autoridade total.

“A verdadeira questão é: quem tem a responsabilidade de defender os direitos humanos? A resposta para isso é: todos. ” - Madeleine K. Albright em Fascismo: Um aviso

3 - O Fascismo e as condições históricas


Receio que o movimento dos Coletes Vermelhos, possa ser usado como bode expiatório que sirva de justificação para os ditadores que aparecem e dizem que garantem que acabam com a incerteza e instabilidade política, e que caso lhes sejam dados extremos poderes para exterminar os" arruaceiros" ou qualquer voz dissonante que exprima a verdade, eles conseguem restaurar a estabilidade.

Em Portugal foi esta a configuração de total instabilidade politica, social e económica e guerras fraticidas até aos anos 30 do século passado, que permitiu a consolidação do Estado Novo, porque Salazar aparece e diz que se lhe derem o poder total ele consegue a estabilidade política económica e social.
Ele consegue ser eleito Presidente e o resultado foram 50 anos de um fascismo bucólico anti-multinacionais, que levou á estagnação social e á morte da educação, que se torna numa informação imposta por propaganda massiva e na perseguição e eliminação política das vozes discordantes, incluindo execuções indiscriminadas pela polícia politica - da qual eu li todos os arquivos e processos durante 4 anos e meio - e que me deu um visão completamente diferente sobre a maneira como funciona o poder na sociedade.

“Que diferença faz aos mortos, aos órfãos e aos sem-abrigo, se a destruição louca é feita sob o nome de totalitarismo ou no santo nome da liberdade ou da democracia?” - Mahatma Gandhi

O Brasil acabou de revelar este fenómeno ao vivo, porque a civilização ocidental não se consegue separar da dominação norte-americana, que tem desvastado a América do Sul com permanente instabilidade, obrigando ao surgimento de vozes discordantes.
A aprovação da lei das armas no Brasil mostra os primeiros sinais dos muitos lobbies americanos que sempre desvirtuararm o rumo pollítico do Brasil, que um dia pode ser despedaçado como está a ser hoje a Venezuela ou a Síria.

O discurso fascista com o seu extremismo ataca o estado social em nome das privatizações e da pseudo-desregulação do neo-liberalismo económico, que só benefecia a irmandade e a imunidade atual dos políticos e do grande capital, o que põe em causa o verdadeiro liberalismo económico e os nossos direitos humanos.

As agressões imperialistas americanas geram fontes de discórdia justificada, que, ou são eliminadas por golpes e contra-golpes políticos dos Estados Unidos, ou então seguem o caminho da "castrização" (Cuba), em que um país para sobreviver se transforma num sistema fechado com uma liderança tirânica, como defesa contra a imposição ou invasão forçada, mas que inevitávelmente traz o sofrimento e sacrifício das populações que tentam resistir á dominação hegemónica.

"fascismo parece apenas uma tentativa inútil de regressão" - Herman Hesse

Mas de qualquer maneira estes ditadores forçados são heróis da resistência ao poder mais maléficamente instalado no Mundo, a hegemonia dos Estados Unidos que continua a criar morte, guerras, irmãos que se matam entre si em nações divididas por extremos, gerando sempre as inevitáveis cicatrizes do sangue derramado.
Hoje em dia, já é possível conhecer os fatos e ações constantes de destabilização que constituem a história da América do Sul, do Brasil, e do Mundo, que não se conseguem livrar desta sanguessuga do espírito humano e da liberdade humana, mas primeiro as pessoas tem de descondicionar toda a sua mente americanizada por uma máquina de guerra e propaganda em nome duma liberdade amordaçada.
Os políticos americanos através do "Estado Profundo" vão continuar a sua incessante procura de lugares fora do seu país, como cowboys para proceder ao extermínio dos indios e fazer carnificinas de búfalos, pois eles chegam com regras impostas e não negoceiam nem compreendem as outras civilizações, porque o seu desejo inconsciente é derramar sangue e mostrar a sua superioridade e supremacia através da violência extrema pela objetificação e diabolização de um inimigo imaginário que nunca existe no começo.

“O fascismo deveria mais apropriadamente ser chamado Corporativismo porque é uma fusão do poder estatal e corporativo.” - Benito Mussolini

Claro que há novos imperialismos á espreita para se colocarem na mesma posição de supremacia dos povos ricos, sobre os povos pobres, que são os seus teatros de negócios de guerra, que escodem o objetivo de roubar todas as suas riquezas naturais, deixando rastos de sangue e a destruição ecológica total.
Existe uma onda de autoritarismo a espalhar-se por todo o planeta porque as pessoas no seu desespero cego acreditam na narrativa do poder e no seu aparelho repressivo e propaganda , e na glória de que a "velha ordem social" será restaurada.

“Antes de os líderes de massa tomarem o poder de adequar a realidade às suas mentiras, sua propaganda é marcada por seu extremo desprezo pelos fatos como tais, pois na opinião deles o fato depende inteiramente do poder do homem que pode fabricá-lo.” - Hannah Arendt in The Origens do totalitarismo

A Educação que sempre foi considerada por mim como a arma mais radical que pode empoderar um povo, para se encontrar soluções por caminhos pacíficos.
A sobrevivência da espécie irá depender das pessoas aprenderem a pensar num meio em que são submergidos por informação inútil ou falsa e uma educação com custos milionários, sem aplicabilidade prática que torne possível a sua liquidação
A "economia psiquica" será portanto um dos fatores mais importantes para sobrevivermos no futuro, criando filtros de auto-vigilância, que não deixem contaminar e desvirtuar a nossa educação e o conhecimento de nós próprios e do Mundo, deformando os nossos valores pessoais, pois a sociedade apenas fornece informação-lixo fragmentada e excessiva, com o objetivo de impedir a nossa auto-determinação e limitar a nossa liberdade de escolha.

Bem, este post não foi programado, tendo desviado o meu fio de pensamento devido á sensação atual das nuvens reais da consolidação do populismo político que precede o fascismo, com a classe dominante a implementá-lo, como último recurso para controlar as massas desesperadas com soldados da polícia armados até os dentes para matar a insurreição rebelde, lidando com eles como terroristas numa zona de guerra.
Vou tentar não perder a cabeça no próximo post, em linha com o significado do absurdo do existencialismo.
E para terminar meditemos sobre isto:

“O adversário estratégico é o fascismo ... o fascismo em todos nós, em nossas cabeças e em nosso comportamento cotidiano, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar o que domina e nos explora.” - Michel Foucault

A Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo.

Artigos publicados:
Introdução à Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo
I - Anarquismo II - Existencialismo Próximos posts da Série:
II - Existencialismo(Cont.)
  • O que é o Existencialismo?(Cont)
    • Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : III - O Significado do Sem Sentido
    • Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : IV - Os Jogadores e os Tempos
  • Os "Existencialistas"
    • Parte 1 - Gabriel Marcel - o Neo-socrático
    • Parte 2 - Jean-Paul Sartre - o Homem do Século XX
    • Parte 3 - Simone de Beauvoir - o Castor
    • Parte 4 - Albert Camus - o Absurdista
    • Parte 5 - Merleau-Ponty - O Humanista do Existencialismo
  • Humanismo e Existencialismo
    • Parte 1 - O Medo da Liberdade de Erich Fromm
  • Existencialismo e Anarquismo
  • O Futuro: Pós-Humanismo, Transumanismo e Inumanismo
III - Descentralismo
  • O que é o Descentralismo?
  • A Filosofia do Descentralismo
  • Blockchain e Descentralização
  • Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo
IV - A Dialética da Auto-Libertação
  • O Congresso da Dialética da Libertação
  • Psicadelismo e movimentos Libertários e Artísticos
  • O Budismo Zen de Alan Watts
  • Psicanálise e existencialismo
  • O movimento antipsiquiátrico
  • Anarquismo, Existencialismo, Descentralismo e Auto-Libertação
V - Conclusões e Epílogo
Referências:
- charlie777pt on Steemit:
A Realidade Social : Violência, Poder e Mudança
Colectivismo vs. Individualismo
Índice do Capítulo 1 - Anarquismo - desta série - Parte 1 desta Série

Livros:
Oizerman, Teodor.O Existencialismo e a Sociedade. Em: Oizerman, Teodor; Sève, Lucien; Gedoe, Andreas, Problemas Filosóficos.2a edição, Lisboa, Prelo, 1974.
Sarah Bakewell, At the Existentialist Café: Freedom, Being, and Apricot Cocktails with with Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus, Martin Heidegger, Maurice Merleau-Ponty, and Others
Levy, Bernard-Henry , O Século de Sartre,Quetzal Editores (2000)
Jacob Golomb, In Search of Authenticity - Existentialism From Kierkegaard to Camus (1995)
Herbert Marcuse, One-Dimensional Man: Studies in the Ideology of Advanced Industrial Society
Louis Sass, Madness and Modernism, Insanity in the light of modern art, literature, and thought (revised edition)
Hubert L. Dreyfus and Mark A. Wrathall, A Companion to Phenomenology and Existentialism (2006)
Charles Eisenstein, Ascent of Humanity
Walter Kaufmann, Existentialism from Dostoevsky to Sartre (1956)
Herbert Read, Existentialism, Marxism and Anarchism (1949 )
Martin Heidegger, Letter on "Humanism" (1947)
Friedrich Nietzsche, The Will to Power (1968)
Jean-Paul Sartre, Existentialism And Human Emotions
Jean-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo
Maurice Merleau-Ponty, Sense and Non-Sense
Michel Foucault, Power Knowledge Selected Interviews and Other Writings 1972-1977
Erich Fromm, Escape From Freedom. New York: Henry Holt, (1941)
Erich Fromm, , Man for Himself. 1986
Gabriel Marcel, Being and Having: an existentialist diary
Maurice Merleau-Ponty, The Visible and The Invisible
Paul Ricoeur, Hermeneutics and the Human Sciences. Essays on Language, Action and Interpretation
Brigite Cardoso e cunha, Psicanálise e estruturalismo (1979)
G. Deleuze and F. Guattari, Anti-Oedipus: Capitalism and Schizophrenia

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