Realidade social: violência, poder e mudança
As teorias sobre a Violência
Na última publicação, examinamos os conceitos de Violência, Agressão e Agressividade.Agora, vamos falar sobre o comportamento agressivo ao nível biológico e no aspecto psico-emocional conjugado com o aprendizagem social da Violência.
A agressão é um instinto?
A etologia (a ciência do comportamento animal) procurou encontrar a base biológica do comportamento agressivo como instinto natural.Não podemos controlar o comportamento agressivo porque é necessário para a sobrevivência, bem como para auto-afirmação.
Este instinto, tem um potencial interno latente, que por interação social pode tender a se acumular com o contato humano.
A agressão é uma conduta social.
Para Freud a agressividade pode ser parte da função sexual sádica e está também ligada à luta individual pela sobrevivência e pela auto afirmação.Freud na sua teoria do dualismo psíquico da oposição entre "pulsões de vida" (voltadas para a auto-conservação), e a "pulsão de morte"(orientada para a morte e autodestruição), em que as primeiras tentam diluir a segunda.
"Não se pensa na repressão total das tendências agressivas do homem: o que podemos tentar é canalizar essas tendências para outra atividade que não seja a guerra." - Sigmund FreudA "pulsão de morte" pode também voltar-se para o mundo exterior, para destruir, possuir, ou exercer poder sobre o "Outro".

A Agressão é um produto de frustração?
Nesta teoria, o comportamento agressivo tem sempre na sua origem uma frustração que é o gatilho de qualquer tipo de comportamento agressivo. O grau de frustração é proporcional ao nível das ações de Agressão."Eu sou contra a violência porque parece fazer bem, mas o bem só é temporário; o mal que faz é que é permanente."- Mahatma GandhiBerkovitz mostrou mais tarde que a frustração só gera comportamento agressivo se a situação envolver elementos que sejam possíveis desencadeadores. Assim, não há conexão direta entre frustração e agressão, mas que a sua estimulação depende de condições externas, o que pode provocar uma reação emocional, como raiva ou cólera. De acordo com Berkowitz e Le Page, por exemplo, a existência de armas num ambiente facilita o surgimento de comportamentos agressivos.
"A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível". - Mahatma GandhiHarris, em 1974, fez um experimento para mostrar que a frustração e a agressão estão ligadas à situação, dum modo em que a intensidade da frustração é despertada em relação ao seu significado para o indivíduo.
O experimento usava homens e mulheres como "atores", e eles tentavam passar á frente de filas de pessoas esperando em restaurantes, bilheteiras de cinema ou supermercados.
Em 50% dos casos, os "atores" saltaram para o segundo lugar na linha de pessoas.
Nos outros 50% dos casos, os "atores" saltaram para o décimo segundo lugar na linha das pessoas.
Os resultados mostraram que as reações verbais eram sempre mais fortes na linha de frente da fila.
A intensidade da Agressão dependia do género porque as reações a mulheres tendiam a ser menos agressivas do que para os homens.
Eles descobriram que os efeitos da frustração e a intensidade da agressão eram proporcionais à arbitragem e à imprevisibilidade da situação.
Por exemplo, o sentimento de injustiça pode ser um grande gatilho da Agressividade.
A investigação dos aspectos emocionais mostrou que a probabilidade de agressão quando a situação é um gatilho de uma resposta dominante ou condicionada pela forma como o comportamento é socialmente aceite, de dor física e ataque ou lesões psicológicas que são igualmente dolorosas.
A Agressão é baseada na aprendizagem social?
Quando a Agressão é apoiada por um reforço positivo, facilita a aprendizagem do comportamento agressivo e as recompensas negativas podem diminuir a agressividade num ambiente de crianças.Os modelos agressivos sociais são uma causa da interiorização infantil da Violência.
Em 1977, os resultados dos experimentos mostraram que os meninos são mais propensos ao comportamento violento e ambos os sexos são mais influenciados pelos modelos masculinos do que pelos modelos femininos.
Deveria haver estudos recentes para ver se estas proporcões ainda se mantêm na sociedade atual.
A Agressão numa sociedade é função de modelos agressivos culturais impostos pela socialização.
Na próxima publicação, falaremos sobre a Violência e os fatores que influenciam o comportamento agressivo.
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Referências de livros consultados:
Les concepts fondamentaux de la psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
La psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
A dinâmica social-violência, poder, mudança - Gustave-Nicolas Fischer Planeta/ISPA, 1980
Gustave-Nicolas Fischer é Professor de Psicologia e Diretor do Laboratório de psicologia na Universidade de Metz.
French, J. R. P., & Raven, B. H. (1959). The bases of social power. In D. Cartwright (Ed.),Studies in social power. Ann Arbor, MI: Institute of Social Research
Castel, R. As metamorfoses da questão social. Vozes, 1998.
Moscovici, S. (1976).Social influence and social change. London: Academic Press.
Michel Foucault, Discipline and Punish: The Birth of the Prison