A Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo
Os "Existencialistas": Parte 5 - Merleau-Ponty - O Humanista Existencialista
"O nosso corpo é o ventre da experiência" - charlie777pt
1. Introdução
"Uma metafísica é uma forma de sentir as coisas"- Fernando Pessoa em A procura da Verdade Oculta (1907-12) .
A maioria das pessoas hoje ainda pensa que suas ações só devem ser dirigidas para as necessidades emocionais e possessões materiais, mas a liberdade está dentro do nosso desejo de ver as outras pessoas livres, como a única maneira de alcançarmos a nossa na sociedade, porque não se é livre enquanto houver escravos ou servos da vontade dos "senhores".
Devemos ter nossos próprios ideais e nunca seguir idealismos, que mais tarde eles matarão todos os valores que os iniciaram, para serem substituídos por instituições centralizadas que tenham "leis" para impor as ideologias resultantes e sufocar os críticos com vozes independentes.
"O Mundo tem o usufruto da da realidade que pertence ao Ser" - Fernando Pessoa em A procura da Verdade Oculta (1907-12)
A psicologia humanista nasceu na lacuna entre a psicanálise e o behaviorismo para enfatizar o indivíduo impulsionado pelo fortalecimento da auto-atualização para aumentar a nossa criatividade e potencial humano.
"O dualismo é basilar na Ciência: na metafísica é-o no monismo. O ponto de partida da Ciência é o dualismo sujeito-objeto, poque existe. O ponto de partida da Metafísica é o monismo dialético sujeito-objeto, poque não pode ser" - Fernando Pessoa em A procura da Verdade Oculta (1907-12)
As teorias da inteligência emocional e do capital humano tornaram-se possíveis de concetualizar na psicologia humanista que nasceu entre a fenomenologia e do existencialismo.
A percepção está entre e contém sensações e intuição como uma moldura fotográfica de situações que habitam no espaço do pensamento e do sentir ou entre o sujeito e o objeto.
Leibniz distingue a percepção da apercepção (esta é a parte consciente da primeira), Kant define-a como "uma consciência acompanhada de sensações" e, na psicologia moderna, aceita-se a definição da apreensão de objetos sensíveis com representações, sensações e julgamentos.
Na fenomenologia, a percepção não é imediata, ela vê um objeto aparente e nunca o real, e recusa a suposição idealista de que essa diferença corresponde ao pensamento ou reflexão.
A fenomenologia da percepção utiliza estruturas psicológicas com um processo de análise ontológica como um modo de consciência que liga as sensações aos atos de inteligência e ao mundo percebido.
"A moral opondo-se á ciência, que é a teoria do que é - e é a teoria do que deve ser" - Fernando Pessoa em A procura da Verdade Oculta (1907-12)
2- Maurice Merleau-Ponty (1908-61)
Carne e Percepção, a filosofia do Corpo
"A nossa carne abraça a realidade, com uma percepção invisível aos nossos pensamentos" - charlie777pt
O "corpo perceptivo", um conceito já desenvolvido por Kurt Goldstein na sua teoria gestáltica das relações cérebro-mente, que é contra a dualidade corpo-mente do pensamento cartesiano, e esse paradigma também é seguido por Merlau Ponty mostrando que a consciência, a realidade e o corpo humano são um todo, baseado na percepção e em influência mútua.
"De certo modo, toda a filosofia, como diz Husserl, consiste em restaurar um poder de significar, um nascimento de significado ou um significado selvagem, uma expressão da experiência pela experiência, que em particular esclarece o domínio especial da linguagem. E, em certo sentido, como disse Valéry, a linguagem é tudo, já que não é a voz de ninguém, uma vez que é a própria voz das coisas, das ondas e das florestas. "- Maurice Merleau-Ponty

Para Ponty, a base do conhecimento como um todo, é a capacidade de percepção da realidade circundante para encontrar significado no que foi recebido em nossos sentidos, e criar uma conexão entre os objetos percebidos.
O corpo é a concha onde o ser humano existe num universo sem finalidade, caótico e irracional em cuja intersubjetividade se gera significado.
Ponty vê os sentidos e a experiência físicos, como a base do conhecimento e do eu, e recusa a afirmação racionalista de que ambos são o resultado do raciocínio e da percepção.
As suas idéias nos mostram que a expressão corporal, a aquisição e o uso da linguagem como mãe da cultura, vivem no pensamento e nos sentidos individuais.
É uma fenomenologia envolvendo linguística (influenciada por Saussure), estruturas de psicologia e antropologia social, cruzada com a aquisição de linguagem e suas patologias, ou com artes como música, pintura, cinema e literatura como manifestações do corpo-sujeito.
O nosso corpo humano é um objeto que percebe com consciência em interação com a realidade, num modelo dinâmico de influências, que não pode ser separado, mas um todo, o que Merleau-Ponty chamou de fenomenologia da percepção.
O fenómeno baseia-se na relação do nosso corpo com o nosso sistema sensório-motor sob o arcabouço da realidade, que restringe e, ao mesmo tempo, interioriza em nós algumas pré-condições e padrões de aprendizagem que condicionam a ação.
Realidade e Self são um par dançando num palco, no cenário de coisas desejáveis na existência presente, dando passos e saltando para o futuro.
O corpo é um órgão perceptivo que acumula experiência, baseado nas sensações proprioceptivas do estado de si e na percepção cinestésica do mundo, através do sistema sensório-motor e da percepção.
"A vida torna-se ideias e as ideias voltam à vida." - Maurice Merleau-Ponty
Para Ponty, percepção e sensação são explicadas com a citação:
"Eu poderia, em primeiro lugar, entender pela sensação a maneira como sou afetado e a experiência de um estado de mim mesmo." - Maurice Merleau-Ponty
Um dos campos da fenomenologia é encontrar as essências da percepção e da consciência com uma visão interna da experiência humana.
A Percepção dos campos da realidade é a raiz da experiência e o pano de fundo de qualquer ação consciente para criar significado no mundo.
Isso contradiz a visão empirista da experiência alimentando o conhecimento e a concepção racionalista que aponta o raciocínio como a fonte do conhecimento sem a influência da percepção.
A percepção, como uma mistura de sensações e razão, é dominada pela atenção, permitindo que as estruturas perceptivas conscientes gerem reflexões sobre ela, onde o julgamento está além do raciocínio e da experiência humana que estruturam e fornecem insights sobre o assunto.
Por reflexão, Ponty significa que os objetos são percebidos dentro da consciência, assim como vivem no mundo externo, e nesse crepúsculo está a distinção de suas relações estruturais mútuas dentro do espaço e do tempo.
"O Tempo e o Espaço não podem por si próprios originar a individualidade. O Ser é necessário. Um homem morto ocupa Tempo e Espaço, mas não tem individualidade, não tem Ser" - Fernando Pessoa em A procura da Verdade Oculta (1907-12)
Bio e psique atuam em nossas percepções e consciências, utilizando dados sensoriais-motores para projetar e dar sentido e expressão às nossas ações e à fala, trabalhando sempre na dialética da existência e da substância.
Sua profunda paixão pelo marxismo logo se transformou em um estado de negação total de qualquer tipo de coletivismo, que levou a seu confronto com Sartre.
Os pensamentos individuais são permutados por discursos que também acrescentam o seu próprio significado, como a manifestação externa da inter-relação entre as pessoas.
Sua definição de liberdade é sempre a possibilidade certa, como uma escolha pessoal nos campos das opções, um modo de vida a que ele chamou "estar no mundo"(being-in-the-world) para transcender nossa essência e nos aproximar mais da verdade.
As teorias de Merleau-Ponty influenciaram amplamente a estética atual, a literatura. cinema e teoria da arte.

"A verdade não é a coisa que eu vejo, nem o outro homem que também vejo com os meus olhos, nem finalmente aquela unidade total do mundo sensível e, no limite, do mundo inteligível que estávamos presentemente tentando descrever. O verdadeiro é o objetivo, é o que consegui determinar por medição, ou mais geralmente pelas operações que são autorizadas pelas variáveis ou pelas entidades "- Maurice Merleau-Ponty em Visible and Invisible
É por nossas escolhas que nos tornamos quem somos, por isso tenha cuidado com suas decisões que devem ser tomadas com o objetivo de encontrar a (sua) Verdade.
"1 - Tudo é sensação
2 -Sensação compõem-se do objeto sentido e da sensação, propriamente dita"
3 - Perante este fenómeno basilar da vida psíquca, a humanidade têm três atitudes: a ciência, a filosofia (a metafísica), e a arte."
4 - A ciência cinde sensação e objeto - ....
5- A filosofia aproxima a sensação e o objeto, busca investigar quais as suas íntimas relações" - Fernando Pessoa em A procura da Verdade Oculta (1907-12)
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A Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo.
Artigos publicados:
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Introdução à Dialética da Libertação: Anarquismo, Existencialismo e Descentralismo
I - Anarquismo
- O que é o Anarquismo?
- A História do Anarquismo
- Parte 1 - Pré-Anarquia - Revolução Social
- Anarquia: Revolução Contra o Estado
- A Anarquia Hoje
- Índice e Conclusões da parte 1 - Anarch
- Parte 1 - Pré-Anarquia - Revolução Social
- Anarquia: Revolução Contra o Estado
II - Existencialismo
- O que é o Existencialismo?
- Parte 1 - Introdução Livre e Errática ao Existencialismo
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: Antes do Pré-Existencialismo
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: I - Pré-Existencialistas
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: III - Fenomenologia - Brentano a Husserl
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: III - Fenomenologia - Jaspers a Sheller
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: IV - Humanismo Existencialista - Buber, Arendt, e Tillich
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: V - Humanismo Existencialista - Rollo May
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: V - Humanismo Existencialista - Abraham Maslow
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Jacques Lacan
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo- Michel Foucault
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Emmanuel Levinas
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Jacques Derrida
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: VI - Pós -Estruturalismo - Paul Ricouer
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : I - O Existentialismo Hoje
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : II - O Fascismo e Existentialismo
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : III - O Medo de Pensar )
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo: IV - A Democracia Direta está de volta com os Coletes Amarelos?
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo: V- Existencialismo: O que é Real na Realidade?
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo: VI- Existencialismo: O Fantasma na Máquina
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : VII - O Significado do Sem Sentido
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : VIII - Os Jogadores e os Tempos - Antes e Hoje
- Os "Existencialistas"
- Parte 1 - Gabriel Marcel - o Neo-socrático
- Parte 2 - Jean-Paul Sartre - O Homem do Século XX
- Parte 3 - Simone de Beauvoir - O Castor
- Parte 4 - Albert Camus - O Absurdista
- Parte 5 - Merleau-Ponty - O Humanista do Existencialismo - Este Post
- Parte 1 - Introdução Livre e Errática ao Existencialismo
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: Antes do Pré-Existencialismo
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: I - Pré-Existencialistas
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: III - Fenomenologia - Brentano a Husserl
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: III - Fenomenologia - Jaspers a Sheller
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: IV - Humanismo Existencialista - Buber, Arendt, e Tillich
- Parte 2 - História Breve do Existencialismo: V - Humanismo Existencialista - Rollo May
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- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo: IV - A Democracia Direta está de volta com os Coletes Amarelos?
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo: V- Existencialismo: O que é Real na Realidade?
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo: VI- Existencialismo: O Fantasma na Máquina
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : VII - O Significado do Sem Sentido
- Parte 3 - A Filosofia do Existencialismo : VIII - Os Jogadores e os Tempos - Antes e Hoje
- Parte 1 - Gabriel Marcel - o Neo-socrático
- Parte 2 - Jean-Paul Sartre - O Homem do Século XX
- Parte 3 - Simone de Beauvoir - O Castor
- Parte 4 - Albert Camus - O Absurdista
- Parte 5 - Merleau-Ponty - O Humanista do Existencialismo - Este Post
Próximos posts da Série:
II - Existencialismo(Cont.)
- Os "Existencialistas" (Cont.)
- Humanismo e Existencialismo
- Parte 1 - Psicólogos humanistas
- Parte 2 - O Medo da Liberdade de Erich Fromm
- Existencialismo e Anarquismo
- O Futuro: Pós-Humanismo, Transumanismo e Inumanismo
- Parte 1 - Psicólogos humanistas
- Parte 2 - O Medo da Liberdade de Erich Fromm


